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Porque uma memória traumática não se apaga com o tempo - Gastão Ribeiro

Porque uma memória traumática não se apaga com o tempo
Gastão Ribeiro


O impacto de eventos traumáticos sobre a memória humana é algo intrigante e que ainda carece de muitos estudos. Mas o que se sabe é que as memórias traumáticas sempre estão presentes e afetam corpo e mente, gerando patologias mentais e somáticas. Existem alguns fenômenos que nos ajudam a explicar isto, o Kindling e os novos estudos sobre formação de memória.

O mais novo conceito de trauma é o de kindling, isto é, reacionamento constante. O trauma é como uma grande fogueira, logo após o acontecido a pessoa vive um incêndio, que são os sintomas invasivos de TEPT, com elementos corticais e sub corticais. Com o passar o tempo a fogueira se apaga, mas a brasa que é sub cortical nunca se apaga e qualquer “ventinho”, que são os gatilhos traumáticos faz o acionamento novamente. Este acionamento constante do trauma provoca retraumatizações ou um aumento das capsulas dissociativas. Este reacionamento sub cortical constante faz com que a memória ganhe força e não se apague.

Novas pesquisas da Universidade da Califórnia em Berkely, nos Estados Unidos, introduzem novas variáveis no conceito de memória de medo ou traumática. Quando uma pessoa está com medo, uma pequena região do cérebro que atua como matriz das memórias emocionais (a amígdala) induz outra parte do cérebro, envolvida na consolidação da memória (o hipocampo), a produzir mais neurônios. A ideia é que os novos neurônios funcionem como 'estepes' para uma informação importante, registrando parte do que poderia ter 'escapado' a outro neurônio. Como se o corpo estivesse reforçando uma informação vital, isto ainda se aprimora pelo conceito de kindling, que reforça esta memória no hipocampo.

A ativação constante da amígdala faz o hipocampo produzir novos neurônios a partir de uma população única de células-tronco neurais. Distúrbios afetivos como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático envolvem memórias emocionais (sub corticais, procedimentais). Estes neurônios recém-gerados têm um papel importante na formação da memória e na criação do contexto emocional da memória, que facilitará associações em uma futura situação de perigo.

Acreditou-se durante muito tempo que a neurogênese ocorresse apenas na fase de desenvolvimento do cérebro, hoje se sabe que células-tronco adultas podem continuar se diferenciando continuamente em células nervosas. Enquanto novos neurônios se formam, outros param de funcionar. A cada dia cerca de cem células nervosas são formadas, mas a metade não sobrevive a quatro semanas. Sabe-se que quando estimulados de alguma forma — como, por exemplo, pela aquisição de uma nova e complexa informação —, mais neurônios conseguem sobreviver. Acredita-se que esta aquisição melhore e potencialize estas memórias.

Portanto uma memória traumática sobrevive tantos anos e é tão difícil de ser dessensibilizada por todos estes fenômenos que associados potencializam estas memórias corticais e procedimentais. O fenômeno do Kindling que é o reacionamento constante da memória, fazendo com que a amígdala induza o hipocampo forme novos neurônios estepes destas memórias, sendo que estes neurônios não se extinguem ou morram pelo reacionamento constante (kindling). Quanto mais o tempo passa mais esta memória se fortalece e ganha força.

Bibliografia.
Artigo veja - Medo estimula geração de novos neurônios
A Neurofisiologia do Transtorno de Estresse Pós-traumático. Gastão Ribeiro – Apostila de curso.

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